quinta-feira, 28 de junho de 2012

GEOPROCESSAMENTO

UM RELATO DE EXPERIÊNCIA


CARACTERIZAÇÃO DO PROBLEMA

O Programa Saúde da Família (PSF) foi proposto em 1994 como uma estratégia de reorientação do modelo assistencial, baseada no trabalho de equipes multiprofissionais em Unidades Básicas de Saúde (UBS). Estas equipes são responsáveis pelo acompanhamento de uma população adscrita, localizada em uma área delimitada, através de ações de promoção de saúde, prevenção, recuperação, reabilitação de doenças e agravos mais frequentes. A territorialização é um dos pressupostos básicos do trabalho do PSF. Reconhecer o território é um passo básico para a caracterização da população a ser assistida pela equipe de saúde, bem como para avaliar o impacto dos serviços sobre os níveis de saúde da mesma. O processo de territorialização é um dos pressupostos fundamentais da Estratégia de Saúde da Família. Essa tarefa adquire, no entanto, ao menos três sentidos diferentes e complementares: a de demarcação de limites das áreas de atuação dos serviços; de reconhecimento do ambiente, população e dinâmicas sociais existentes nestas áreas; e de estabelecimento de relações horizontais com outros serviços adjacentes e verticais com centros de referencia. No entanto, percebe-se a preocupação em operacionalizar o conceito de território, limitando-o à demarcação de áreas e adscrição de clientela, sem, no entanto, uma discussão sobre os seus múltiplos sentidos. O território é um espaço em permanente construção e reconstrução. Sua concepção deve transpor o conceito de um território-solo, envolvendo os aspectos econômicos, políticos, sociais, culturais e epidemiológicos. O conhecimento do território onde uma equipe de saúde atua é uma das estratégias utilizada para o diagnóstico e planejamento das ações em saúde do PSF. Desta forma, o território passa a ter um papel fundamental em conjunto com o cadastramento das famílias vinculadas à Unidade de Saúde do PSF. A territorialização produz várias informações importantes, sendo necessária uma ferramenta adequada para visualizá-los no sentido de subsidiar a tomada de decisões no processo de planejamento de ações de saúde. As técnicas de geoprocessamento são utilizadas no planejamento, monitoramento e avaliação das ações de saúde, além de serem consideradas como ferramentas importantes de análise das relações entre o ambiente e eventos relacionados à saúde bem como identificação de regiões e grupos sob alto risco de adoecer. Esta técnica tem permitido tanto a elaboração de projetos que promovam o desenvolvimento local, quanto a utilização de conceitos e ferramentas inerentes à geografia no sentido de planejar a territorialidade de políticas públicas, de equipamentos e ações.



DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA

Este trabalho descreve a experiência do geoprocessamento em saúde realizada pela equipe Três Reis da Clínica da Família Dr. Felippe Cardoso, localizada no bairro da Penha. Optou-se por realizar um mapa cartográfico considerando os grupos de riscos avaliados pela equipe durante seu processo de trabalho. Foi utilizado o prontuário eletrônico como fonte de dados. O chamado Complexo da Penha compreende onze comunidades que se espalham pelo território do tradicional bairro carioca, dominando a sua paisagem. O Parque Proletário da Penha é uma das comunidades que integram esse complexo, iniciando-se na Praça São Lucas e se estendendo até a região da Vacaria, localizando-se na zona da Leopoldina, próximo a igreja da penha, ponto turístico, tombado com patrimônio histórico. A área de atuação da equipe Três Reis, também conhecida como vacaria ou caixa, foi uma das duas últimas comunidades a ser formada no Bairro da Penha. Essa área era composta de fazendas que abasteciam  a região com leite e queijo, chácaras responsáveis pelo fornecimento de verduras e legumes da vizinhança e a vacaria, onde se criava gado, cavalos e porcos para consumo da população local. Inaugurada no dia 10 de dezembro de 2010, a Clínica da Família Dr. Felippe Cardoso (CFFC) possui onze equipes de Saúde da Família, com 32612 famílias cadastradas.  A equipe Três Reis é composta por seis microárias, sendo elas: MA 1 (257 famílias cadastradas); MA2 (164 famílias); MA3 (262 famílias); MA4 (209 famílias); MA5 (206 famílias); MA6 (204 famílias) totalizando 3739 pessoas cadastradas.



EFEITOS ALCANÇADOS

A análise espacial se apresenta como uma ferramenta que auxilia na tomada de decisões, para um melhor planejamento, e, portanto, a intervenção no espaço e na definição de políticas públicas que regulem o uso e a ocupação desses espaços na área da saúde. Observou-se que a partir da integração dos dados obtidos junto aos agentes comunitários de saúde foi feito um monitoramento dos agravos Hipertensão Arterial, Diabetes Mellitus, Doenças Sexualmente Transmissíveis (DST) e NIC I e NIC II/III de cada microárea, possibilitando a cada agente um maior controle de suas ações. Com o uso do geoprocessamento foi possível visualizar os dados de forma mais simples, mostrando que é possível facilitar o trabalho não só do ACS, mas também da própria Unidade de Saúde da Família. Por meio da cartografia foi possível conhecer a área de inserção da Equipe Três Reis e os determinantes do processo saúde-doença. Permitiu, ainda, resgatar a história da comunidade, construir vínculos com e identificar possíveis articulações entre os vários equipamentos sociais. Diante do exposto, percebemos que a cartografia perpassou o simples conhecimento do território, já que permitiu compreender os vários sentidos do processo de territorialização, vivenciando a realidade local para além do seu espaço físico.


RECOMENDAÇÕES

O Geoprocessamento mostra-se como instrumentos de aperfeiçoamento da saúde, por poder auxiliar no planejamento, na prestação e na avaliação dos serviços à população. Revela-se como uma ferramenta útil para a gestão, possibilitando análises de situações sanitárias, avaliação de risco populacional, construção de cenários que viabilizem o planejamento de estratégias de intervenção nos diversos níveis. Ao aprofundar o conhecimento das distintas realidades das microareas durante a apropriação do território, o propósito de um planejamento e gestão dos serviços de saúde oferecidos à população, o geoprocessamento pode se tornar uma realidade na Saúde da Família. Recomendamos sua inserção nas unidades, pois ele é útil na visualização e identificação dos padrões de mortalidade e morbidade da área adscrita, através da delimitação de áreas de influência, definindo áreas de exposição a fatores de risco. Este trabalho auxilia no fortalecimento do plano de ações no primeiro nível de atenção à saúde, potencializando as diretrizes de adscrição da clientela e territorialização, e o princípio da descentralização.



Escrito por: Enfermeira Shirley 
Equipe Três Reis

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